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Novo lote de insumo chinês permite 19 milhões de doses
18/05/2021 19:39 em Novidades

 

As duas instituições que fornecem a maior parte das vacinas contra covid-19 aplicadas em brasileiros informaram ontem que receberão, já nos próximos dias, novas remessas de insumos da China. Com isso, o Instituto Butantan, de São Paulo, e a Fundação Oswaldo Cruz, do Rio, poderão contar com matéria-prima para produzir 19 milhões de doses de Coronavac e da AstraZeneca /Oxford.

 

A informação foi divulgada cedo pelo secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz. A liberação dá novo fôlego à produção no país, mas os impactos dos atrasos no envio de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) são sentidos com a desordem do cronograma de imunização nacional.

 

A única alternativa para garantir a imunização da população no curto prazo, por ora, é acelerar acordos com laboratórios internacionais, reforça o médico epidemiologista José Cassio de Moraes. Ele lembra que Butantan e Fiocruz trabalham para desenvolver imunizantes nacionais, mas ressalva que, na prática, o Brasil ainda é dependente do insumo chinês.

 

“É uma perspectiva, mas ainda não temos nada de concreto. Não temos independência de IFA”, pontua o médico, também professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

 

Segundo o Instituto Butantan, a previsão é que 4 mil litros de IFA cheguem ao Estado no dia 26. É quantidade suficiente para finalizar perto de 7 milhões de doses da Coronavac, produzida no Brasil pela instituição por meio de acordo de transferência tecnológica com a chinesa Sinovac.

 

Na sexta-feira, o governo de São Paulo entregou 1,1 milhão de doses ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde. Ao se queixar das barreiras que o governo Jair Bolsonaro ergue quando desfere ataques contra a China, o governador João Doria já havia avisado que, após essa remessa, não havia mais estoques de matéria-prima.

 

No dia 12, ele entrou em contato com o embaixador chinês Yang Wanming, pedindo que o emissário intercedesse junto ao governo do país asiático para liberação de insumo. “O embaixador me disse que vai voltar a falar amanhã [dia 13] com a chancelaria chinesa em Pequim, renovando o apelo para que haja a liberação dos insumos que estão prontos no laboratório Sinovac. São 10 mil litros de insumos suficientes para a produção, aproximadamente, de 18 milhões de vacina contra covid-19”, disse Doria no dia, ao descrever a conversa como “longa e produtiva”.

 

Ele contou ainda que, ao argumentar com o embaixador, apresentou dados para mostrar que a falta de IFA pode comprometer a vacinação no Brasil. “O governo brasileiro deveria pedir desculpas à China pelas manifestações erráticas e desastrosas que fez”, comentou Doria na coletiva.

 

Não é possível afirmar se o contato beneficiou também a Fiocruz, mas a instituição carioca divulgou que receberá dois lotes de matéria-prima no próximo sábado - um deles a título de antecipação de remessa antes prevista para o dia 29. Com isso, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos - Bio-Manguinhos poderá produzir cerca de 12 milhões de doses de Astrazenca, garantindo cronograma até a terceira semana de junho.

 

A Fiocruz informou que, devido ao rápido escalonamento de produção que atingiu, as remessas de IFA vem sendo consumidas antes do tempo previsto. Com isso, como já havia anunciado, será necessário interromper a produção na quinta-feira, até a chegada do insumo.

 

 

“Não há ainda previsão de que isso possa gerar qualquer impacto em entregas futuras. Caso possa haver algum impacto, ele será avaliado e comunicado mais à frente. O cronograma de entregas permanece semanal, sempre às sextas-feiras, conforme pactuado com o Ministério da Saúde, seguindo a logística de distribuição definida pela pasta”, informou a instituição por nota.

 

Para o professor Moraes, a China não tem razão em retaliar em meio à pandemia, tampouco o Brasil deve atacar outros países. “Não estamos pedindo subordinação, pedimos habilidade. Diplomacia é isso”, diz. Segundo ele, além das questões geopolíticas, a demanda mundial por imunizantes ainda está muito alta. “Terá mais vacinas quem souber negociar.”

 

 

Fonte: https://valor.globo.com/

 

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