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Portas fechadas e um prejuízo bilionário
02/08/2021 18:24 em Economia

 

Uma volta pelas ruas das cidades mineiras com o olhar mais atento já traça um cenário: placas de “vende-se” e “aluga-se” e portas cerradas em definitivo ou provisoriamente dão o tom do impacto da pandemia. No turismo, um dos setores mais afetados, Minas Gerais foi destaque, só que negativo. O Estado foi o segundo com a maior perda de estabelecimentos turísticos, com o fechamento de 4.100 pontos em 2020, atrás apenas de São Paulo. Quando o assunto são as perdas financeiras, as terras mineiras estão na terceira colocação – depois de São Paulo e Rio de Janeiro –, com um prejuízo de R$ 31,2 bilhões de março do ano passado a maio de 2021.

 

Os dados são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O Brasil fechou 35,5 mil estabelecimentos ligados ao turismo no ano passado. A baixa financeira desde o início da pandemia foi de R$ 376,6 bilhões.

 

 

“Se levarmos em conta o faturamento total, é como se o setor tivesse ficado oito meses totalmente parado desde março de 2020”, diz o economista da CNC Fabio Bentes. Os ramos da atividade com maior fechamento de portas foram bares, restaurantes, hotéis e pousadas, mas os impactos vão além. “A economia está toda interconectada. Se o turismo melhora, aumentam as demandas na construção civil com os movimentos de expansão, as vendas de combustíveis e a abertura de novas lojas”, exemplifica o economista.

 

 

Os micro e pequenos empresários foram os mais afetados: 87% do total de empresas ligadas ao turismo fechadas no país são de menor porte, segundo a CNC. “Para as micro e pequenas empresas, crises como essa costumam ser mais complicadas por causa da menor disponibilidade de caixa. Além disso, quando os micro e pequenos empresários demitem, acabam acumulando várias funções, reduzindo a qualidade do serviço e a capacidade de diálogo com o cliente”, justifica o analista do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas) Vinicius Quintão.

 

 

Nessa fase, manter as portas abertas foi um desafio, mas a recompensa está próxima. A CNC estima que a melhora virá até o fim de 2022. “Foi muito difícil, aqui ficou parecendo cidade-fantasma, não vinha ninguém”, conta Marise Coimbra, dona da loja O Legítimo Rocambole, em Lagoa Dourada, no Campo das Vertentes. A cidade é parada certa para quem segue de Belo Horizonte rumo às históricas São João del-Rei e Tiradentes. Acostumada a produzir até 400 rocamboles em um dia de bastante movimento, Marise teve as vendas reduzidas a zero, mas já sente a virada. “Agora está cada dia melhor, o turismo está voltando”, celebra.

 

 

Até chegar nesse ponto, o rocambole virou caso de Justiça durante a pandemia. No ano passado, a prefeitura havia proibido a venda do bolo enrolado para evitar aglomerações. Marise acionou o Poder Judiciário para poder voltar às vendas.

 

 

Na histórica Tiradentes, distante cerca de 50 km da “cidade do rocambole”, houve briga e pressão de todos os lados, envolvendo poder público e o empresariado local. Bastante dependente do turismo, o município, com aproximadamente 10 mil habitantes e cerca de 300 pousadas, viu algo inédito acontecer: cerca de 5% da hotelaria foi colocada à venda. Se alguns fecharam os estabelecimentos compulsoriamente, tiveram também aqueles que preferiram e tiveram condições de esperar para retomar os negócios. “Percebemos que abrir a pousada seria voo de galinha”, resume Rosana Negreiros.

 

 

Ela é uma exceção: optou por pisar no freio e ainda está com as atividades de sua pousada, Aromas da Montanha, paralisadas. Cautelosa, conseguiu manter dois funcionários apenas para dar manutenção nas instalações do imóvel, que continua de portas fechadas e quartos vazios, mesmo após um ano e quatro meses de interrupção.

 

 

“Fechamos pela questão sanitária. Não queríamos ser responsáveis por contaminar a cidade e nossos hóspedes”, explica a empresária, que afirma que só vai reabrir o estabelecimento quando a pandemia estiver mais controlada na localidade, que registrou 17 óbitos em função da Covid-19 desde março de 2020.

 

 

 

RETOMADA COMEÇA A SER SENTIDA NO CAIXA

 

Apesar das perdas financeiras, Tiradentes, no Campo das Vertentes, agora olha para logo ali. Os comerciantes já sentem o reflexo da retomada na caixa registradora. Além de pousadas e restaurantes, as lojas de artesanato também estão se recompondo da quebradeira.

 

 

Os jovens irmãos Marcos e Mariana Paineira estão nesse grupo. Eles são netos de Tião Paineira, um famoso artesão que morreu há três anos. Levam à frente o legado do avô e vivem de fazer peças em cerâmica. A procura atual tem sido tanta que eles quase não dão conta da produção.

 

 

“Antes fazíamos duas fornadas por mês, agora são duas a cada semana”, diz Mariana. Ou seja, uma produção quatro vezes maior. “Fazemos tudo com muito cuidado e temos agendamentos intercalados. Ainda bate insegurança e medo por causa do vírus”, garante Marcos.

 

 

O cenário de retomada, no entanto, é inquestionável. As ruas estão cheias, e as pousadas já voltaram a registrar ocupação máxima aos finais de semana. “As pessoas ficaram muito presas e estão com necessidade de recarregar as baterias”, avalia Wellerson Cabral, presidente da Associação Empresarial de Tiradentes (Asset).

 

 

Dono da Pousada Maria Barbosa, ele celebra o momento atual e avalia o período de interrupção das atividades como um marcador. “A pandemia trouxe um ar de mais profissionalismo. A pessoa que se doou teve mais chances, ela se adaptou mais fácil a esse cenário”, diz. Para ele, o empresário que ficou suscetível à falta de condições financeiras aliada ao medo do vírus afundou muito mais. Cabral foi um dos empresários que contestaram fortemente o fechamento do comércio local.

 

 

 

 

 

Fonte: https://www.otempo.com.br

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